13abr
2016
19

João e o Pé de Feijão em Doce

Era uma vez uma pobre viúva que tinha um filho chamado João. Eles moravam numa humilde propriedade, pois tinham sido roubados por um ogro no passado. Agora eles só tinham para seu sustento uma vaca, a Branca Leitosa. Como a vaca não estava mais produzindo leite, precisaram vendê-la para poderem sobreviver.

Então João, puxando a vaquinha por uma corda, foi para cidade cumprir a inevitável missão. Ele nem havia chegado à feira da cidade, quando, em uma encruzilhada, encontrou um homem no meio do caminho.

– Bom dia, João!

O menino respondeu o cumprimento, ficou intrigado e pensou:  “Como ele sabe meu nome? ”

– João, para onde você vai? perguntou o senhor.

– Vou à cidade vender esta vaca, respondeu o menino.

– Podemos trocar a vaca por estes feijões mágicos. São tão mágicos que, quando jogados na terra, já no dia seguinte, o pé de feijão terá crescido até o céu!– retrucou o velhinho.

– Que maravilha! Então, eu troco! – falou euforicamente o garoto.

João voltou para casa, feliz da vida pela grande aquisição: feijões mágicos.

Quando chegou a sua casa, ainda estava claro, pois ele nem chegara à cidade. Apenas encontrou o senhor e voltou rapidamente.

A mãe perguntou:

– Já voltou? Veio sem a Branca Leitosa? Sinal de que conseguiu vendê-la. Quanto você conseguiu por ela?

João, felicíssimo, disse:

– Você não vai adivinhar o que aconteceu! e contou tudo como ocorrera…

A mãe não se conformou e imediatamente gritou furiosa:

– Como você foi tolo!

Nesse momento, estava tão irritada que jogou os feijões pela janela e berrou:

– Já pra cama! Vá dormir sem comer nada!

Joãozinho demorou muito para dormir porque estava faminto. Demorou, demorou, mas adormeceu.

Quando acordou estava tudo mudado: o sol não entrava mais em seu quarto, estava tudo muito escuro, folhas enormes cobriam a janela. Muito intrigado, levantou-se rapidamente e foi ver o que acontecera.

Os feijões que sua mãe jogara, haviam brotado. Um imenso pé de feijão subia às alturas, ultrapassando as nuvens, a perder-se de vista. João confirmou que os feijões realmente eram mágicos.

Curioso, João subiu no enorme pé de feijão. Subiu muito, muito, até o céu. Lá encontrou uma estrada de nuvens e no final dessa longa estrada havia uma casa muito, muito alta, parecia um imenso castelo. Na frente do monumental palácio, havia uma senhora bastante grande.

João cumprimentou-a educadamente, disse que estava faminto e precisava de um café da manhã.

– Você quer café, menininho? É isso que você vai virar, se o dono chegar, pois ele adora meninos grelhados no café da manhã! –  balbuciou a mulher.

Essa mulher ficou com pena de João, levou-o até a cozinha e antes que terminasse a refeição, ouviram:

– Tump! Tump! Tump! – tudo tremia muito, até as pessoas, de medo. João ficou tão desesperado que acabou se escondendo dentro do forno.

Era hora do café do grandalhão. Ele estava com muita fome. Gritou:

– Hum! Que cheiro bom! – e cantou:

Fe-fiu–fo–fum

Farejo fartura de filhote,

Fatias de frangote,

No forno ou no fogão,

Frito e no filão de pão. Obaaa!

Depois da refeição, o grandão ficou contando moedas como se contasse carneirinhos. Quando ele saiu da sala, João rapidamente roubou várias e várias moedas. Colocou-as em sacos e saiu correndo até o pé de feijão. Jogou os sacos com o ouro e as moedas caíram no pobre quintal de sua mãe. João desceu muito, muito… desceu feliz e falou para mãe:

– Eu estava certo, os feijões são realmente mágicos. Está vendo mãe, recuperamos nossas moedas de ouro!

Por um longo tempo, viveram muito bem com as moedas de ouro: reformaram a casa, fizeram várias mudanças na propriedade, mas, com o tempo as moedas de ouro acabaram.

Em um belo dia de sol, João resolveu subir no pé de feijão para se arriscar novamente. Chegou até a estrada das nuvens, avistou a enorme casa e tentou a mesma tática para entrar no castelo. Lá dentro, degustando calmamente o lanche preparava-se para contar algo sobre o sumiço dos sacos de ouro que a mulher queria muito  saber  e lhe perguntara. De repente, ele ouve: ” Tump! Tump! ” Passos e mais passos do grandalhão. Agora ele se esconde dentro do pote de farinha.

Tudo aconteceu exatamente como da outra vez, o gigante cantou:

Fe–fiu–fo–fum

Farejo fartura de filhote,

Fatias de frangote,

No forno ou no fogão,

Frito e no filão de pão. Obaaa!

Nesse dia, a galinha mágica, que bota ovos de ouro, a fornecedora de sua fortuna, estava lá para alegrar o ogro. Ele, que ficou observando esse seu bichinho de estimação,  acabou adormecendo sentado. Roncava tanto que tudo tremia.

João saiu do pote, bem de mansinho, todo enfarinhado, pegou a galinha de ouro e fugiu. A galinha não ficou quieta, cacarejou muito. O gigante acordou e perguntou para a mulher pela galinha. A mulher não entendeu absolutamente nada.

João correu muito até o pé de feijão, desceu rapidamente e deu à mãe a maravilhosa galinha que botava ovos de ouro.

João não estava satisfeito, queria mais e mais…, não estava contente só com a galinha e seus ovos, decidiu subir mais uma vez. Subiu, subiu até chegar à casa do gigante. Entrou sorrateiramente, ficou… e ouviu;

”Tump! Tump!”-  como antes –

Fe–fiu–fo–fum

Farejo fartura de filhote,

Fatias de frangote,

No forno ou no fogão,

Frito e no filão de pão. Obaaa! – cantou o ogro mais uma vez.

O brutamonte falou à mulher:

– Sinto cheiro dele, aquele que roubou minhas moedas de ouro, minha galinha que bota ovos de ouro!

Procuraram em todos os lugares: no forno, no pote de farinha, em todos os potes e não encontraram ninguém. Pensou: “Acho que estou sentindo cheiro do menino que comi ontem. Agora que já tomei meu café, vou me distrair e ouvir minha harpa dourada”.

E disse para a harpa de ouro:

– Toca!!!

 Ela tocou tão maravilhosa e calmamente que o ogro adormeceu como um bebê, mas roncava como um imenso leão e estremecia tudo.

João, pé ante pé, pegou a harpa dourada e já estava escapando, quando a harpa gritou bem alto:

– Senhor! Senhor!

O gigante acordou e viu o moleque carregando sua harpa. João correu muito e o ogro atrás dele, mas, João correu mais, era muito ágil. O menino desceu no pé de feijão e desapareceu. O gigante viu João, bem pequeno, minúsculo, lá embaixo, ficou com receio de descer. Assim, João foi ganhando tempo… Quando estava quase chegando, gritou e pediu para a mãe trazer rapidamente o machado.

Já no chão, João cortou o pé de feijão com várias machadadas. O pé mágico se partiu, começou a cair e o ogro provavelmente despencou e se quebrou todo, nem sabemos onde.

João mostrou à mãe a maravilhosa harpa de ouro. Era ouro por todos os lados na propriedade, ainda mais com a galinha botando tantos ovos amarelinhos reluzentes.

Ele e sua mãe ficaram tão ricos que nunca mais se preocuparam com absolutamente nada e viveram felizes para sempre.

Pesquise a biografia de Joseph Jacobs.

Conheça a releitura desse livro: Abaporu de Tarsila do Amaral

Comentários (19)

  • aparecida oliveira

    eu amei a historia!

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    • Bete

      Ficamos felizes por ter apreciado a história.
      Bjs

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    • AMANDA CONCHETTA DORINI DA SILVA

      Adorei

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      • Maria de Jesus

        Nossa é realmente uma história muito linda!! Eu amei ❤

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  • Eduardo

    Esta estória valoriza o roubo e a ganância. O que pode haver de bom nisto. Nada se constrói da noite para o dia. Só o trabalho duro produz frutos perenes. Acho que vale a reflexão para todos e não só para o João!

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    • Claudia

      A história é justamente para as crianças refletirem que não está certo conseguirmos as coisas com essa facilidade e que na realidade isso não existe, não existem feijões mágicos, harpas mágicas e galinha dos ovos de ouro. Para se conseguir algo deve ser com muito trabalho, pois magia não existe.
      O conto é para trabalhar os aspectos que não são reais e o que deve ser realmente feito para se conseguir sucesso na vida. Ficar esperando cair do céu, só nas histórinhas.

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      • Giovanna Yasmin Ramos do Santo

        amei a estória ❤❤

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        • Bete

          Olá!
          Que bom que você gostou. Temos outras histórias para você ler. Aproveite!

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  • Beto

    Na realidade, esse lado “bonitinho” é apenas uma desculpa para iludir os não lúcidos. Esta “historinha” assim como muitas que circulam como inofensivas, é contada para crianças que estão em fase de desenvolvimento físico e moral. Aceitar esta história, que apresenta um final feliz pra quem roubou, não traz a nítida reflexão das suas palavras. Mas sim gera uma memorização de longo prazo no subconsciente das crianças de que é normal se apropriar daquilo que não é delas. E pouco a pouco sendo expostas a este baixo nível de informação, estarão memorizando em seus cérebros a aceitação de que é normal tomar aquilo que não pertence a elas e estarem sujeitas a não aceitarem o direito de propriedade, tal como a ideologia socialista e comunista assim pretendeu e ainda pretende. E agora, ao invés de armas, vestem-se no meio infantil para criar esta deturpação social daquilo que é correto no meio de crianças. Que os pais estejam atentos para isso e procurem estar informados sobre aquilo que seus filhos irão ler. Não é atoa que esta geração está contaminada por crimes que não as indignam mais. Estão no cercado feito “porcos selvagens”. Ou vocês nunca ouviram como se captura porcos selvagens? Fica a dica.

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    • Bete

      O conto João e o Pé de Feijão foi resgatado pelo escritor australiano Joseph Jacobs. Assim como fizeram Charles Perrault na França e irmãos Grimm na Alemanha, Joseph Jacobs reuniu os contos britânicos para recuperar o legado folclórico desses respectivos países. Essa coletânea foi publicada em 1890.
      O conto de fadas folclórico apresenta o mal e a virtude presentes para que a criança possa vivenciar as diversidades da vida como um todo. Essa dualidade faz com que a criança perceba o certo e o errado e entenda a problemática da vida.
      Para aprofundar o conteúdo sugiro o livro A Psicanálise dos Contos de Fadas de Bruno Bettelheim da Editora Paz e Terra.

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    • cristt

      concordo
      sempre que conto essa história para meus alunos, digo que João não agiu corretamente pegando o que não era dele.

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    • Maria Helena

      Concordo com cada palavra.

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  • Cacilda

    Amei a história

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  • Bruno

    Essa história reflete o conflito entre os dois mundos, o material e o espiritual. Onde há um conflito interior dentro do João. Ele busca no espiritual, céu , as virtudes e valores para uso no material, sua casa com sua mãe . Porém ele percebe que falta algo além de apenas sucesso material (ovos de ouro e galinha de ouro) ele busca a harmonia, que consegue através do som da harpa. O canto dos Deuses.
    O gigante representa o egoísmo a ser combatido e somente após cortar a ponte entre os dois mundos, o pé de feijão, ele derruba e mata o gigante, o egoísmo, ficando com o conhecimento espiritual e a prosperidade material através disso.
    Enfim … um conto muito rico.

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    • Marcia Oliveira

      Ótima resposta, o problema de não saber interpretar leva ao erro de somente ver que o menino “roubou”, a criança vai mais além na hora de escutar a história e a criança pensa de forma sintética e nesse momento é capaz de alcançar as realidades eternas ali contidas que o adulto por ter uma mente totalmente analítica não alcança. Os contos são importantíssimos para a formação do imaginário que vai ajudar a criança a desenvolver sua inteligência.

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      • Bete

        Márcia, é isso mesmo: trabalhar com o imaginário da criança para que perceba possibilidades diferentes e que faça a sua escolha.

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  • Denise Carvalho

    Ótima história! Li para o meu sobrinho dormir.

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    • Bete

      Bom dia !
      Que bom! aproveite, temos muitas histórias.
      Abraços
      Bete

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  • Lu

    Histórias como esta são as mesmas desde os meus avós. A culpa do mundo em que estamos estar tão devastado não se concentra nas histórias, pois elas são as mesmas. A culpa está na inversão de valores. Na falta de respeito aos outros, principalmente aos diferentes. Eu cresci ouvindo essas histórias e continuo contando aos meus filhos, porque a responsabilidade da educação de uma criança não deve ser depositada somente na escola. Você como pai ou mãe deve contar a história, escutar o que seu filho tem a dizer e explicar a lição que há por trás. Pensamentos politizados tem gerado uma geração de pais alienados no mundo digital que se preocupam tanto em mostrar que sabem o que melhor para o “futuro do país” mas não se preocupam nada com o futuro adulto que ele irá gerar, deixando a criação dos seus filhos a mercê da sociedade.

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