Os Três Ursos em Doce
Era uma vez uma família de ursos. Viviam felizes em sua caverna no meio de uma floresta – um Enorme Urso, uma Ursa de estatura mediana e outro Urso, bem pequeno, que não largava sua mascote, um ursinho de pelúcia, que o pai ganhara no dia em que descobriu que teria um filhotinho.
O pequeno era a alegria da caverna. Fazia gracinhas, poses, imitava leões, pois ora brincava de ator, ora de modelo, tudo para ver os pais gargalharem.
Ambos se preocupavam com o filhinho. Todos, naquela caverna, gostavam de mingau, mas para o pequeno o alimento não fazia todo o bem necessário, precisava então de um reforço. Afinal, ele precisava crescer!
Todos os dias a Mamãe Ursa preparava seu famoso mingau para o café da manhã.
Colocava-o nos potes: um bem grande para o Ursão, um médio para ela e um pequeno para o Ursinho.
Os três saíam da caverna, como de hábito, para deixar a delícia esfriar. Não
queriam queimar suas línguas. Aproveitavam o tempo para procurar mel a fim de complementar a alimentação do pequeno. Os três saíam olhando para o alto dos galhos em busca de colmeias.
Numa certa, manhã, uma criança da redondeza estava perdida no meio da floresta, tentando voltar para casa, quando inesperadamente se depara com uma caverna interessante. Olhou, olhou… Como era muito curiosa, resolveu explorá-la. Entrou.
Ficou espantada!
Lá dentro, encontrou três tigelas em cima de uma pedra que mais parecia uma mesa. Tudo muito organizado. Achou estranho! Havia mingau em três recipientes.
Experimentou o do pote maior, estava muito quente. Depois o do meio, ainda estava bem quente, não quis. Por fim, saboreou o da tigela menor. Ah! Estava na temperatura ideal! Comeu tudo!
Logo atrás, observou três cadeiras especiais: uma grandiosa, nem conseguiu subir, bagunçou tudo; outra cadeira, normal, bem menor que a anterior, dessa só tirou a almofada; – havia ainda uma minúscula. Sentou-se. Não era para seu tamanho. Esborrachou se no chão!
Mais adiante, havia três camas bem diferentes: uma monumental e bem alta, não conseguiu subir e achou muito dura; outra mediana e muito macia, também não gostou, jogou tudo para o chão e a terceira bem pequena, em que a criança mal cabia, mas achou tão perfeita que adormeceu.
Tudo o que a criança fez, foi bem rápido.
Mal ela dormiu, os três ursos estavam de volta, apressados, para que o mingau não esfriasse totalmente. Olharam espantados para as tigelas. Ficaram desconfiados! Tinha algo estranho!
Papai Urso falou bem alto:
– Mexeram no meu mingau!
Mamãe, em tom normal, exclamou:
– Mexeram no meu mingau! A colher está suja! Não deixei assim!
O Ursinho, com o mel na mão, disse bem baixinho:
– Mexeram no meu mingau! Comeram tudo! Ainda bem que tenho mel!
Olharam para trás e viram as cadeiras bagunçadas e a pequenina quebrada. Disseram:
– Alguém esteve aqui! Mexeram na minha cadeirona!
– Alguém esteve aqui! Mexeram na minha cadeira!
– Alguém esteve aqui! Mexeram na minha cadeirinha! Quebraram a minha cadeirinha!!!
Foram até as três camas.
A maior, com uma cabeceira imensa, estava com as cobertas no chão.
Papai Urso falou alto:
– Deitaram na minha cama enorme!
A cama média não tinha travesseiros, estavam sobre o tapete. Mamãe Ursa então:
– Deitaram na minha cama média! Bagunçaram tudo!
E a menor…
Ah! Na menor… Na caminha havia…
O Pequeno Urso sussurrou:
– Deitaram na minha cama minúscula! Tem uma criança de cachinhos dourados dormindo na minha cama como um anjo.
Com tanto falatório em tons tão diferentes, a criança acordou assustada. Deparou-se com três ursos: um gigantesco, um médio e um miúdo. Não acreditou no que estava vendo. Ficou tão apavorada, com tanto medo, que saiu em disparada pela floresta para retornar para sua casa.
Nunca mais os ursos viram essa criança curiosa e intrometida com cachinhos dourados. Provavelmente ela nunca mais foi passear sozinha na floresta e também nunca mais entrou na casa dos outros sem ser convidada.
De Robert Southey – 1837, por Elisabete Ribeiro