A Cigarra e as Formigas em versos
Beth Cury
Era uma vez…
uma Cigarra feliz.
Que saúde!
De bem com a vida
cantava, cantava
a plenos pulmões:
zzzzzzzzzzz, zzzzzzzzzz, zzzzzzzzzzz, zzzzzzzzz…
Enquanto cantava a Cigarra
trabalhavam as Formigas.
Às vezes parava a cantora
só pra ver o trabalho
daqueeeeeeelas loooooongas fileeeeeeiras
intermináveis
de for-mi-gui-nhas- for-mi-gui-nhas- for-mi-gui-nhas…
a carregar
fo-lhi-nhas-fo-lhi-nhas- fo-lhi-nhas-fo-lhi-nhas…
tão ver-di-nhas-ver-di-nhas- ver-di-nhas-ver-di-nhas…
em cima
das ca-be-ci-nhas- das ca-be-ci-nhas- das ca-be-ci-nhas…
Num desses dias, a Cigarra perguntou:
– Por que vocês não param um pouco?
As Formigas nem pararam pra responder.
Andando e falando, disseram:
– Precisamos guardar, precisamos guardar
alimento, muito alimento.
Quando o inverno chegar
teremos uma família bem grande pra alimentar!…
Insiste a Cigarra:
– Aproveitem a vida! Cantem comigo, vamos brincar!
E as Formigas então:
– Não podemos, não podemos,
a ordem é trabalhar.
Alegria total, era Primavera!
Luz, sol, brisa, tudo verdinho,
muito verdinho, flores, flores,
perfume no ar!….
A Cigarra continuava a cantoria.
As Formigas, concentradas, na própria sabedoria:
trabalhar, trabalhar, trabalhar…
nem contemplavam a primavera
estação que ainda era.
Os outros bichinhos
também trabalhavam:
o serra-pau cortava
tudo que encontrava;
as joaninhas salpicando
cores por lá;
as borboletas voejando,
de flor em flor,
cheias de cor.
Os caracóis devagar
passeando, passeando,
sem pressa.
Que vida boa essa!
Mas passou a primavera.
Veio o verão, depois o outono…
A Cigarra cantando,
mais fraco agora…
O inverno chegara!
………………………………………
Cada dia mais frio
a Cigarra mais fraca
de tão mal alimentada.
A voz da cantora já mal ecoava.
Era um abrigo o que então procurava
pois a neve castigava.
A comida de escassa
agora era nada.
Lembrou-se então das formigas
tão precavidas.
Supunha:
lá, o que não faltaria
era comida.
Arrastou-se na neve
a pobre.
A custo, chegou ao formigueiro.
Encontrou na porta,
a Formiga Guardiã,
na entrada, que guardava o dia inteiro.
Pediu:
– Abrigo e comida, Pelo amor de Deus!
A Formiga sentinela
lembrou-se dela:
só queria saber de cantar
e queria todas as formigas a descansar
e a brincar.
Respondeu-lhe então:
– Você cantou, como quis, pois dance agora!
Todo um grupo de Formigas
vendo a confusão
cercou a Cigarra franzina
e em coro
também deu opinião:
– Cantou? Dance agora!
E entregaram a ela um saiote
e … sapatilhas de balé.
Vejam só!!!…
Triste, a Cigarra teve de lhes dar razão.
Entendeu então o que é precaução.
As Formigas divertiam-se
com tal situação.
Algumas riam de rolar no chão.
Mas a Formiga Rainha,
justa, que era,
de uma sabedoria que não erra
dirigiu-se à Cigarra:
– Do meu reino eu me ocupo
e é nossa regra
o trabalho de todos
sem culpa.
O papel das minhas súditas
é trabalhar sem cessar,
mas …
melhor será, se música estiver no ar.
O que posso sugerir:
– A Senhora, Dona Cigarra, vir para elas cantar
deixando o trabalho mais leve
a cada dia da vida a rolar.
Por isso entre agora, abrigue-se da neve
sem demora.
Num belo dia
a Cigarra já recuperada
deu um concerto
de voz e violão
ao formigueiro
vindo lá de dentro
do coração.
Enquanto tocava e cantava
ia pensando:
O nosso dia a dia pode vir a ser
um conjunto
um bloco
uma montanha
enorme
de grandes dias.
É só querer.