24jun
2018
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Doce “Arraiá”

O tempo da colheita chegou!
Como todos os anos, a festa estava marcada para aquela noite. Era preciso agradecer a fartura.
Depois da colheita do milho, ainda próximo ao milharal, Pedro soltou um balão para lembrar aos amigos que a festança já ia começar.
Antônio, amigo de Pedro, alguns animais da roça e os sentinelas do milharal presenciaram atentos a subida do balão.
Vários balões coroavam o céu, anunciando o início do festejo, não tinha como esquecer.
Rapidamente, os dois amigos levaram a carroça carregada de espigas para o terreiro onde as mulheres preparariam os quitutes.
Feliz, Antônio viu sua noiva próxima a uma fogueira, já acesa, pois era para agradecer pela fertilização da terra e pela farta colheita. Todos extremamente radiantes pela abundância do que colheram.
As fogueiras são acesas há muitos anos como agradecimento da fartura recebida, é uma tradição.
Há quem diga que para cada santo junino existe uma fogueira diferente: a de Santo Antônio é quadrada, a de São João redonda e a de São Pedro triangular.
As moças casadoiras só queriam ficar ao lado da fogueira quadrada, para ver se esse ano conseguiriam casar com a ajuda das suas simpatias para o santo casamenteiro.
Tudo perfeito: o “arraiá” estava todo enfeitado. Os convidados chegando felizes por mais um excelente ano de fartura.
Bem ao longe, Antônio observava o casal amigo, conversando demoradamente, ele procurando os olhos dela, sorrindo, enfim, namorando no banco da pracinha.
Encantados e supostamente apaixonados, Antônio e Rosinha foram até a capelinha da cidade para combinarem os últimos preparativos para o casamento a se realizar brevemente.
Os espaços preenchidos com muito entusiasmo por todos, cada um preparava algo diferente para tornar a festança um grande acontecimento.
A cantoria estava animada, os músicos caprichavam no repertório. O casal Antônio e Rosinha ensaiava algumas músicas e Pedro disfarçando ciúme, observava os pombinhos.
Chegou a hora tão esperada por Antônio: a do casório. Antônio esperava a noiva junto com o padre e os convidados.
A noiva ia entrar, mas… Pedro estava na porta. Rosinha e Pedro trocaram olhares e, sem que ninguém esperasse, Pedro fugiu com a noiva!!!
Pronto! Não teve casório. E um novo par se formou.
Os convidados acharam tudo muito estranho, mas a vida continua e a festança continuou.
Os músicos tocaram as músicas favoritas do pessoal e a quadrilha começou.
Todos dançavam animados, menos Antônio que estava a um canto cabisbaixo e aborrecido por ter sido abandonado. Os demais convidados participavam das barracas do correio do amor, pescaria… deliciavam-se com os quitutes preparados com muito carinho pelas mulheres do vilarejo.
Num lado do terreiro, várias pessoas dançavam euforicamente a dança de fitas. Eles se divertiam muito, Antônio também tentava. Todos cantavam e se entrelaçavam, tramando as fitas até o final para depois tudo recomeçar.
De repente lá no céu, muitos avistaram um balão totalmente apagado. Foi um corre-corre, todos se deslocando para a mesma direção. Pedro e Antônio nem perceberam que naquele momento estavam lado a lado, com o mesmo objetivo: recuperar o balão.
Estavam no lugar preferido dos dois, mesclados a animais da roça. Imediatamente, olharam para o céu e viram o balão apagado, bem próximo, caindo em suas mãos. Quem pegou o balão; um, outro ou os dois ao mesmo tempo.
Paira uma dúvida no ar: talvez um dia, quem sabe, a amizade volte a reinar lá no doce arraiá.

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