João e Maria em versos
João e Maria em versos
Beth Cury
Dois irmãozinhos
– João e Maria –
unidos
indefesos
pobrezinhos
de pão e de atenção.
É que o pai
ouvindo pedidos da mulher
– uma mulher sem coração –
diante da falta de comida
naquele lar
aceitou a ideia dela
de na floresta as crianças abandonar.
Contra a vontade, o pai concordou com a atitude malvada.
Combinaram à noite
que sairiam com as crianças na madrugada.
Mas… João e Maria a tudo ouviram.
A menina chorou
e João a consolou:
– Deixe estar, irmãzinha,
vou encontrar um jeito
de nos defender.
Deus há de nos proteger.
Dito e feito: de madrugada
a madrasta os acordou
e a caminho da floresta logo se puseram.
O menino enchera os bolsos do paletozinho
de pedrinhas para marcar as trilhas.
Na volta era só segui-las.
Foi o que fez
seguindo atrás:
marcou o
c
a
m
i
n
h
o
com muitas
p
e
d
r
i
n
h
a
s.
Chegaram a uma clareira.
– Vão recolher lenha! – ordenou o pai
com o coração doído
quase arrependido.
– Vou acender uma fogueira.
Madeira acesa
as crianças se sentaram aquecidas
pra comer o pedaço único de pão dormido.
O pai e sua mulher se afastaram
dizendo que iam recolher
mais lenha pra fogueira.
Mas fugiram.
Não mais voltaram.
Deixaram amarrado um pau
num tronco seco
que batia, batia com o vento
pras crianças acharem que era o machado batendo
que eram eles atrás de lenha, recolhendo.
Que nada!
Anoiteceu. Não voltaram mesmo.
Maria chorava.
João então resolveu –
tomou o caminho de volta
e a lua favoreceu:
iluminava as pedrinhas brancas
que o caminho indicavam.
Chegaram em casa assustados
e o pai os abraçou contente –
via o seu mal anulado.
Mas a madrasta não se conformou.
Convenceu o marido a fazer tudo de novo:
voltar à floresta, sem demora
agora por outro caminho
e chegar a um ponto emaranhado.
– Voltar dele era complicado.
As crianças ouviram de novo a conversa.
Maria, menorzinha,
chorava.
De novo João a consolava.
Já não conseguiu pegar pedrinhas
a madrasta a porta trancara.
Teve de marcar o caminho
com o pão que ganhara.
Só que o menino não viu: sabem o quê?
…………………………………………..
Os passarinhos que os seguiam e iam comendo todo o pão que era a marca do caminho.
Tudo de novo:
recolher lenha, acender a fogueira, as crianças aquecidas, adormecidas.
Acordaram de noite.
Ninguém por perto.
O caminho?
Não encontraram.
Dormiram de novo, abraçadinhos, com muito medo.
Procuraram o caminho.
Não havia mais caminho.
Andaram três dias, com fome, cansados.
Foi quando viram um pássaro branco – era uma pomba. Pousou sobre uma casa. As crianças a seguiram e viram:
– Era de doce a casa: caminho de açucarado!
Telhado de marshmellow!
Paredes de bolacha!
Porta de chocolate!
Janela de açúcar!
Que delícia!
Uma bela refeição!!! Era miragem?
Começaram a comer – telhado, janela
e ouviram um barulho dentro dela.
– Quem está aí e come minha casinha?
Era uma senhora
na verdade, uma bruxa
que se fazia de boazinha.
Mandou entrar as crianças
Deu-lhes comida e cama gostosa,
mas, de manhã,
trancou João numa gaiola.
A Maria, deu todas as tarefas da casa:
lavar, limpar, arrumar
cozinhar muito, muito
muita comida:
a velha malvada queria João engordar
é que queria devorá-lo
gordinho, gordinho.
Todos os dias pedia-lhe pra ver o dedinho.
Ele, que desconfiara,
mostrava um ossinho que encontrara.
Bruxas têm olhos vermelhos e enxergam mal.
Por isso, ela demorou a perceber
que estava sendo enganada.
Mas, quando percebeu, resolveu:
– Vou comê-lo amanhã! – disse por dentro.
Na manhã seguinte:
– Maria, ponha um caldeirão de água a ferver, acenda o forno também.
Pensou:
– Vou cozinhá-lo e depois assá-lo.
Maria, que desconfiou, acendeu o fogo,
mas o forno
fingiu não saber.
A bruxa então:
– Que tola, é assim! – e acendeu.
Com a bruxa inclinada, com meio corpo lá dentro,
Maria aproveitou – empurrou a malvada.
A porta de ferro do forno? Trancou!
Eela pra sempre lá ficou.
Maria correu, libertou João
e juntos encontraram
moedas de ouro, jóias
até pelo chão.
Recolheram
e pra casa rumaram.
Já conheciam melhor a floresta
e os bichinhos ainda ajudaram.
Encontraram o caminho,
a casa.
Encontraram o pai e abraços, abraços, bastantes…
A madrasta? Tinha morrido .
Só agora, depois de muita história, puderam viver felizes, pra todo o sempre.