O Patinho Feio em versos
Beth Cury
Era uma vez uma pata
feliz, sobre seus ovos
no ninho, que nem o dos passarinhos.
Ninguém sabe como
um ovo, bem maior do que os outros
foi parar a sua frente, de repente.
Que Mãe!!!
Mais um ovo? Não resiste.
Se não chocar, vai ficar triste.
O tempo anda,
Mamãe paciente espera.
É mais do que hora.
Uma bicadinha, outra bicadinha,
mais outra.
Vão nascendo os patinhos.
Mamãe, toda orgulhosa.
Um a um, todos fora.
Mas, aquele, que aparecera de repente
e que ela acolhera,
mais tempo a reteve no ninho.
Demorou, demorou.
Ela não entendia.
Mamãe Pata bicava o tal ovo
pra ver se o filhote nascia.
Parecia é
que ele queria dar um trote.
Afinal apareceu
de um jeito todo seu:
ele era diferente.
Mas… diferente em quê?
Enquanto os patinhos eram amarelinhos,
rolicinhos,
fofinhos,
ele era cinzento, enorme e feio.
Mamãe Pata estranhou,
mas só em pensamento,
a ninguém revelou.
Quis então fazer um teste.
Foi pra lagoa, num passeio à toa,
como quem não quer nada:
– Quero ver se ele nada!
E ele, como todos os outros,
nadou.
Mamãe Pata, sempre intrigada,
apresentou sua prole às vizinhas.
Dona Galinha não se segurou:
– Que estranho, cinzento!
Os patinhos irmãos
passaram a bicá-lo, enxotá-lo.
Até os porquinhos exageraram!
O pobrezinho, então, descontente,
foge
e ninguém se ressente.
Ele, sim, sente.
Vai pelo mundo,
sem destino.
procura amigos.
Chega a um brejo
Vê uma família que nada:
marrecos, que harmonia!
O verde, a água, o ar!
Seria ali o seu lar?
De repente, ouve-se um estrondo
outro
outro
outro
e pronto.
Correm os cachorros
num alvoroço
recolhem a caça
levam ao dono.
O Patinho Feio a tudo assistiu,
escondidinho, encolhidinho,
sem nada dizer,
com um medo… de fazer tremer.
Os caçadores, os cachorros,
e os marrecos abatidos!
Cabecinha baixa, tristonho,
vai embora na noite.
Andou, andou, andou…
Numa bela manhã,
vê três aves nadando imponentes,
deslizam suaves em águas transparentes.
Ele vê deslumbrado:
será que um lar ele tinha encontrado?
Porém nesse dia,
elas voam, se vão.
De novo sozinho
ele pensa na sorte.
Ficou pelo lago
em total solidão.
Foi embora o verão,
viveu todo o inverno
sem verde, sem flores
tudo deserto, só solidão.
Nevou, nevou muito
e ele aguentou.
O tempo passava e ele crescia
sem nem perceber.
Até que um dia
vê as aves de volta.
Na beira do lago, flores e verde.
É que a primavera estava de volta.
Mergulham nas águas as aves,
deslizam, deslizam, naturalmente, elegantemente…
O Patinho nadava também
é o que ele sabia fazer.
Eis que o espelho das águas
reflete a seus olhos uma ave
igualmente imponente:
E ele descobre:
era ele, e não outro,
igual a elas, em nada diferente!!!
O Patinho se encontra:
– Eu sou um deles! Imaginem, eu sou um cisne!!!
Lindo, elegante, branco, bem branco agora.
Nadou, nadou majestoso, no meio dos demais,
no meio dos seus iguais.
Quem passar por lá pode ver: um bando de cisnes que nadam, que voam, que bordam as águas do lago azul. Um deles é Ele – quem diria – aquele a quem chamavam de Patinho Feio. Um CISNE!!!