MAMÃE GANSA e o lixo que vira luxo
Era uma vez uma gansa que morava numa floresta encantada onde tudo estava perfeito. Sentia-se feliz da vida, pois seus gansinhos estavam bem encaminhados, nadavam em lagos plácidos. Eram um orgulho para a Mamãe Gansa.
Ela vivia tranquila e passeava frequentemente pelos arredores de seu lar, quando num dia, de repente, parou escandalizada, de olhos arregalados. Não queria acreditar no que estava ali, diante de si: numa clareira da mata, lixo, muito lixo!!! Nunca antes acontecera nada igual!
Tomou o caminho de volta indignada e foi logo conversar com amigos da floresta para saber o que estava acontecendo. Perguntou, colheu opiniões, mas não descobriu as causas de tamanha aberração.
Voltou ao local do seu espanto e o lixo continuava lá.
Só que agora havia alguns ratinhos e de todos os tipos, de todos os tamanhos, de diferentes cores… Atraídos pelo lixo, os ratinhos não sabiam o que fazer: apenas corriam de um lado para outro.
Mamãe Gansa foi embora totalmente intrigada.
Pensou…pensou…
Cada vez que voltava lá tudo piorara. Estava virando uma montanha.
Certo dia, em que Mamãe Gansa vivia sua vidinha de mãe zelosa com os filhotes e com a floresta, passou por ela uma peçonhenta, rapidinha, com ares de ansiosa, e parecia que estava se dirigindo para lá, para aquele lixão, que só crescia. Ela foi ficando cada vez mais preocupada.
Pensou… pensou… e:
– Eureca!!! Já sei!!! Ratinhos roem muito. Eles podem roer, e roer… e transformar, e criar coisas incríveis. Vou ajudá-los a transformar aquele lixo em luxo!
No dia seguinte, foi até a clareira e conversou com os ratinhos. Pela carinha deles, dava pra ver que eles não estavam entendendo nada. A maioria dos ratinhos não acreditava no que ela estava propondo. Apenas um, bem atento, muito diferente dos demais, extremamente vivo, acabou dando crédito a ela e seguiu todas as suas orientações.
Mamãe Gansa pegou uma bota do meio do lixo, pediu a ele, a esse ratinho atento, para roer nos lugares que ela foi marcando e, como num passe de mágica, transformou a bota em uma moradia – para ratinhos, uma aconchegante moradia!
Alguns dos ratinhos ficaram só olhando sem acreditar no que estavam vendo. Alguns outros, ainda totalmente despreocupados, só queriam saber de correr de um lado para o outro, farejando, cheirando e roendo. Pra que se preocupar em ter um lugar seguro pra ficar?! Ali era perfeito, tanto lugar para correr, pra se esconder…
Diferente de todos, o ratinho Rui – era assim que ele se chamava – ficou extasiado com o que acabara de fazer. Foi então buscar a irmã, que se abrigava num buraco no mato, pra morar com ele. Sua irmã Rita era muito prendada e, contrariando a lei da natureza dos ratinhos, não roía para destruir, só construía. Rui e Ritinha então construíram móveis pra morar bem.
Com quê? Ora, com material desperdiçado naquela montanha de lixo. Quanta coisa aproveitável! Quanto material pedindo pra continuar sendo útil, pra continuar tendo vida!
Mas viram que a Casa Bota era pequena pra eles. Resolveram então fazer outra casa.
Mamãe Gansa voltava lá todo dia. Enquanto isso, cada vez mais a tal peçonhenta, que era uma cobra, rondava o local, à espera de uma oportunidade.
– E os ratinhos? – Mamãe Gansa se perguntava – o que fazer pra defendê-los? Preciso avisá-los pra eles ficarem atentos.
Numa das vezes que Mamãe Gansa voltou à clareira, veja só o que encontrou: o ratinho Rui, que roía como ninguém, e a ratinha Ritinha que ria, costurava, roía … e construía. Fizeram de um chapéu uma casa maravilhosa, dessas de livro de história, pra Ritinha morar – seu novo lar.
Rói, rói, rói e constrói… Rói, rói, rói e constrói…
Surgiu então na paisagem uma bela Casa Chapéu ao lado da Casa Bota, com jardim e tudo mais…
Os outros ratinhos começaram a pôr atenção nesses companheiros e um deles interessou-se em participar desse novo movimento. Rui, Ritinha e o novo companheiro, trabalhando juntos, construíram pra ele também uma casa. Essa era transparente – tinham achado no lixo garrafas.
De repente, sem que nenhum ratinho percebesse, eis que se aproxima sorrateiramente vinda do meio do lixo da clareira a temida inimiga, na esperança de dar o bote e se deliciar com aqueles ratinhos felizes e apetitosos.
A cobra estava faminta, tinha rastejado dias e dias sem encontrar nada pra comer. Agora só lhe restava esperar o momento certo pra abocanhar um almoço completo. Tinha se escondido no meio da lixarada, só espreitando o momento certo.
De repente, um barulho estranho, forte: lixo caindo pra todos os lados. Mamãe Gansa desconfiada, bem atenta, correu pra ver o que era.
Chegou bem na hora: a peçonhenta, a inimiga, A COBRA dava o bote.
Mas a sorte ajudou: ela não conseguiu atingir seu objetivo porque o ratinho que era seu alvo, que estava à vista, estava era dentro da Casa Transparente que acabara de construir, só observando a belezura das acomodações. Assim, a Cobra bateu com o nariz na porta da casa e ainda levou belas bicadas da Mamãe Gansa. Ficou em carne viva e se escapou de lá rapidinho pra nunca mais voltar.
Todos os ratinhos souberam do acontecido e perceberam quão vulneráveis estavam. Já Rui, Ritinha e o ratinho que se salvara viram como valeu construírem suas casinhas. Ficaram bem protegidos na Casa Bota, na Casa Chapéu e na Casa Transparente. Uma maravilha! Suas casinhas eram uma moradia, um local organizado, bonito e até jardim tinham! Por cima de tudo, valiam como abrigo. O ratinho que mal acabara de construir a Casa Transparente salvara-se graças a ela!
Os outros ratinhos agora prestaram mais atenção – do lixo muita coisa se aproveita. O que pode não servir mais aqui para alguém, poderá servir ali mais além – uma bota, um chapéu, uma garrafa… Quanta coisa mais!
A comunidade de ratinhos frequentadora do lixão começou a se encantar com o projeto da Mamãe Gansa.
Construíram juntos edificações as mais variadas, formaram condomínios… Material é o que não faltava.
Mesmo os incrédulos passaram a crer que a ideia da Mamãe Gansa poderia modificar a vida de todos os ratinhos.
Construíram parques, trem, caminhão… Puderam criar, criar com tudo que estava no lixo.
Ficou um luxo a aldeia Ra, Re, Ri, Ro, Ru… criada por Mamãe Gansa e os ratinhos construtores Rui e Rita, destinada aos outros ratinhos e agora então junto com todos eles também. Todo mundo entrou em ação.
A montanha de lixo foi diminuindo e a natureza recuperou sua beleza. A floresta ficou de novo exuberante e os ratinhos viveram felizes para sempre.