Rapunzel em Doce
Era uma vez um casal sem filhos, mas que desejava muito ser abençoado com a vinda de uma criança para alegrar seu lar.
Esperaram muito, até que um dia souberam que a tão desejada criança estava a caminho.
Uma janela do quarto da futura mamãe dava para uma horta verdinha e viçosa da casa vizinha. Nesse espaço encantador, havia tenras hortaliças verdejantes, alfaces exuberantes, rabanetes de folhagens promissoras. Havia também canteiros de esplêndidas flores. Porém, ninguém ousava entrar nesse magnífico jardim, pois pertencia a uma terrível feiticeira.
Em uma bela manhã, como sempre, a mulher estava olhando a maravilhosa plantação de rabanetes dessa horta e teve um desejo daqueles de grávida, incontrolável – e precisava avidamente comer a verdura. A sua vontade insaciável aumentava dia a dia, até que não suportou mais e implorou ao marido que providenciasse um pouco daquela iguaria para a próxima refeição. O marido percebendo quão infeliz ela estava, resolveu satisfazer-lhe o desejo.
Ele, que a amava tanto, achou melhor se arriscar e pegar um pouco de rabanete, para que ela não adoecesse. O marido subiu no muro, pulou na horta, colheu um pouco da verdura e levou-a para a mulher. Os rabanetes eram tão saborosos que ela queria todos os dias e o marido se arriscava todas as noites para não ser visto por ninguém.
A satisfação da mulher em comer em todas as refeições aquela salada fresquinha era tanta que o marido ficava extremamente feliz em proporcionar a ela tamanha felicidade.
Ao entardecer de um dia, com um sombrio crepúsculo, enquanto o marido surrupiava a hortaliça suculenta, a temida vizinha feiticeira apareceu e rispidamente berrou:
– Como ousa roubar da minha hortaliça?
O marido respondeu:
– Tenha misericórdia! Só fiz isso porque minha mulher avistou sua linda horta pela janela e, como está grávida, teve desejo de comer de suas hortaliças.
A feiticeira se acalmou um pouco e disse ao homem que poderia pegar tudo aquilo que quisesse, mas com uma condição: assim que o bebê nascesse, ele seria dela, da feiticeira, e ela cuidaria da criança como uma mãe.
O homem, com medo de perder a mulher por não lhe satisfazer os desejos de grávida, acabou aceitando o trato.
Infelizmente a promessa foi cumprida. Assim que a criança nasceu, uma menina linda, os pais deram-lhe o nome de Rapunzel e a bruxa levou-a embora.
A menina foi levada para uma torre na floresta e lá ficou trancada durante anos. No local não havia portas, nem escadas, apenas uma pequena sacada bem no topo da torre. Sempre que a feiticeira queria ver Rapunzel, ela chamava a menina de baixo da torre:
– Rapunzel, Rapunzel!
Jogue suas tranças.
Rapunzel tinha cabelos muito longos e loiros como ouro. A garota amarrava a trança no trinco da janela e a feiticeira subia cautelosamente até chegar à sacada da torre. Todos os dias a mesma frase, as tranças eram lançadas e subia a bruxa.
Em uma bela manhã, como era de costume, o filho do rei cavalgava pelas planícies. Nesse dia, ele resolveu mudar um pouco seu trajeto e passou perto de uma torre. De repente, ele ouviu um canto mavioso. Encantado, ficou parado olhando para ver quem cantava. Era uma moça muito linda, que estava no alto da torre. Uma visão e um som encantadores. Alucinado, o príncipe quis subir na torre, mas não encontrou porta, nem escada, nada. Como não conseguiu entrar, foi embora, mas o canto ficou ecoando em seu coração. Voltou algumas vezes para ver e ouvir a linda donzela e seu canto.
Em uma dessa vezes, viu uma velhinha se aproximando, ficou escondido atrás de uma árvore e ouviu:
– Rapunzel, Rapunzel!
Jogue as tranças!
A trança foi lançada imediatamente e a velhinha subiu cautelosa pelo cabelo da mocinha. Descoberto o segredo!
No dia seguinte, o príncipe foi até a torre e pronunciou as mesmas palavras:
– Rapunzel, Rapunzel!
Jogue as tranças.
Caíram as tranças e ele subiu.
Rapunzel ficou apavorada! Um homem em seu quarto! Mas, bastaram alguns momentos de gentileza nunca antes conhecidos para se apaixonarem. E o príncipe voltou à torre muitas e muitas vezes.
A feiticeira não sabia de nada, nem imaginava o que acontecia na torre quando ela não estava lá. Distraída e inocentemente, Rapunzel disse à bruxa que era mais difícil içar a feiticeira que o príncipe.
A feiticeira ficou muito brava e num ato que de fúria cortou-lhe as tranças. Rápidas e rápidas tesouradas, a trança no chão. Sem perder tempo, a bruxa levou-a para o deserto para continuar na solidão. Ficou lá sozinha, só vivendo em prantos… Totalmente desencantada da vida, pois nunca mais veria o seu príncipe amado, nem ninguém, estava mesmo totalmente abandonada.
No mesmo dia em que Rapunzel fora levada para o deserto, o príncipe foi à torre, à noite e euforicamente pronunciou as palavras mágicas:
– Rapunzel, Rapunzel!
Jogue as tranças!
A feiticeira havia amarrado a trança no trinco da janela, jogou-a e o príncipe subiu.
O príncipe, em vez de encontrar sua meiga Rapunzel, encontrou a bruxa e muito vingativa. Ela disse que ele jamais veria Rapunzel e arranhou-lhe os olhos. Ele sentiu muita dor e acabou caindo do alto da torre. Sobreviveu, mas perdeu a visão.
O príncipe vagou muito sem ver nada. Vagou por muito, muito tempo.
Em um belíssimo dia ensolarado, muito quente, sem saber, chegou ao deserto. Ouviu um certo canto, já conhecido. Aproximou-se cada vez mais daquele som aconchegante. De longe foi reconhecido por Rapunzel!…
Eles, finalmente, encontraram-se. Lágrimas de felicidade caíram dos olhos da jovem e algumas encostaram nos olhos do príncipe que, imediatamente, voltou a enxergar como antes.
Foram para o reino e lá viveram felizes por muitos e muitos anos, para sempre…
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