O Marquês de Rabicó
Havia uma grande família de leitões no sítio, eram sete ruivinhos com manchas brancas. Mas, à medida que iam crescendo e ficando gordinhos, eram servidos nos jantares a convidados especiais.
Da irmandade inteira só sobrou um, o Rabicó. Recebera esse nome porque tinha um rabinho pequeno. Também, só sobreviveu porque Narizinho adorava brincar com ele.
Certa manhã, estavam na varanda conversando, tia Nastácia e Dona Benta, sobre o almoço do aniversário de Pedrinho. A avó queria saber se tinha restado algum porquinho. Nastácia comunicou que só o Rabicó e a menina não queria saber de matá-lo. Dona Benta comunicou a tia Nastácia para dar um jeito e matá-lo sem que ela percebesse. Mas, Narizinho estava próxima e ouviu tudo.
Saiu correndo à procura do porquinho, encontrou-o e o escondeu próximo à casa de tio Barnabé.
Chegada a hora de pegar o leitão, tia Nastácia procurou-o pelo sítio inteiro e não encontrou nada. Resolveram então preparar uma galinha e deixar o Rabicó para o Ano Novo.
Assim que terminaram o jantar, sem o leitão, Narizinho foi soltar o porquinho. Rabicó chegou rapidamente à porta da cozinha para comer algo, pois estava com fome. Tia Nastácia, intrigada, achou estranho ele ter escapado, mas pensou: não vai escapar no Ano Bom…
Narizinho e Emília estavam no quarto conversando, quando a menina questionou a boneca que ela deveria mudar de vida e se casar, pois tia Nastácia a havia consertado, colocado mais macela em seu recheio e ficara mais gordinha e mais bonita. Mas Emília não estava gostando nem um pouco dessa ideia.
– Que tal o Rabicó? – indagou Narizinho.
– Jamais casaria com um leitão. – diz Emília.
– Fiquei sabendo que Rabicó é um príncipe e uma fada má o transformou em um porco.
O sonho de Emília era tornar-se princesa, então considerou a proposta de Narizinho.
Precisavam arrumar um pai para o Rabicó, dessa forma Pedrinho ficou encarregado de fazer um visconde de sabugo com cartola, mas que na realidade é um rei disfarçado que se passa por visconde para ninguém desconfiar.
A bobinha da Emília acreditou na história inventada e aceitou o convite de conhecer o Senhor Visconde de Sabugosa para fazer um pedido de casamento para seu filho, o marquês de Rabicó.
A Condessa de Três Estrelinhas, Emília, indagou-se como o filho do visconde que era um marquês, como viraria príncipe?… Difícil…
O Visconde cumprimentou a condessa e tirou a cartola. Nesse momento Emília viu o sinal da coroa em sua testa. (Pode ser – pensou.)
Conversaram bastante sobre os dotes da noiva e do noivo. Acertaram os detalhes do noivado. Comentaram sobre o defeito do noivo: comer tudo o que vê pela frente.
A boneca aceitou todas as condições.
O noivado começou, às tardes. À força, estava o marquês na sala para ver sua noiva e ele só procurava coisas para comer e não queria saber de conversar com a noivinha.
Pedrinho e Narizinho não gostaram da postura do Rabicó e substituíram o noivo por um representante: um vidro azul.
Noivaram. Tinha chá de mentirinha, um faz-de-conta geral. O vidro azul, muito cavalheiro, sempre se despedia beijando Emília na testa e ia embora.
Estavam todos cansados daquele noivado, então resolveram preparar os quitutes da festa de casamento: cocadas, pés de moleques, outros doces…
Arrumaram a mesa próxima ao pomar.
Chegou o momento. Emília vestida de noiva e véu se aproximou da mesa, Rabicó de cartola e faixa a esperava contido por Pedrinho. Casaram-se e o Rabicó só de olho na mesa. Narizinho e Pedrinho esqueceram de tomar conta dos comes e de Rabicó que, de repente – nhoc! nhoc! nhoc!
Imediatamente a festa acabou! Emília chorou muito e se arrependeu de se casar com um tipo como ele.
Narizinho colocou panos quentes, dizendo que com o tempo ele criaria juízo e para Emília não esquecer que ele logo viraria um príncipe e ela, princesa.
Pedrinho ficou tão irritado com Rabicó que não se conteve e gritou:
– Nada disso! Príncipe nunca será! Tudo invenção! Apenas, um porco porcalhão.
Emília, ao ouvir tudo isso, caiu desacordada.
O casamento não deu muito certo. Narizinho tentou convencê-la da realeza de Rabicó, mas a boneca não era boba.
– Não se preocupe, Emília, um dia ele morre e você se casa com outro – ponderou Narizinho.
Os dias passaram. Chegou a véspera do Ano Novo, data comemorada no sítio com um jantar para muitos convidados com diversos assados: peru, frangos, leitão…
Os pratos foram chegando, até que chegou uma travessa com um leitão com ovo cozido na boca e rodelas de limão.
As crianças não imaginavam que chegaria um leitão! Ficaram atônitas: Narizinho foi procurar o Rabicó e nada.
– Pedrinho, não coma esse leitão. É o Rabicó! Disse chorando a menina Narizinho.
Emília ficou extremamente feliz. Estava viúva. Cantava, ria…
Os demais chorosos!
Mas, de repente, entra na sala o marquês de Rabicó. Emília não estava acreditando na sua sina.
O marquês desconfiado de seu fim, encontrou com um leitão na estrada, muito parecido com ele. Então teve a brilhante ideia de convidá-lo a visitar o sítio de Dona Benta, lugar com muita comida. O bobinho foi, encontrou abóboras, comeu-as e depois foi para o forno no lugar do Marquês.
Agora Rabicó, na sala, só esperando as sobras do Ano Novo como se nada tivesse acontecido. E a Emília, com uma raiva danada e toda emburrada.
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