Sítio do Picapau Amarelo
Todas as noites a sonhar com o Príncipe Escamado, Dona Aranha, Doutor Caramujo… e todas as aventuras imaginárias que pudessem acontecer. Emília e Narizinho adoravam sonhar acordadas.
Em uma manhã ensolarada, apareceu Narizinho com uma carta na mão para Dona Benta. Era de Pedrinho, anunciando que chegaria para as férias na semana seguinte.
– Puxa! – reclamou Narizinho. Quanto tempo vamos esperar para contar a Pedrinho sobre nossa viagem ao Reino das Águas Claras!
Dona Benta retrucou que não sabia de nada.
Emília imediatamente interferiu:
– Não adianta contar! Você não acredita em nossas histórias. Diz sempre: “São sonhos de criança!”
– Será?! Elas estão falando a verdade?! Sinhá, como uma boneca de pano que eu fiz, pode falar? – questionou tia Nastácia.
As duas senhoras saíram da varanda sem respostas.
As “meninas” não gostavam de esperar, e tinham que aguardar ainda uma semana. Mas, como era tempo de jabuticabas, poderiam se divertir, uma vez que adoravam as doces bolinhas pretas.
As duas ficavam embaixo do pé de jabuticaba, colocavam a fruta entre os dentes e tloc. Era um tloc, tloc incansável, quando a Narizinho subia no pé e as jabuticabas caíam no chão. Aí então, era um tloc, tloc, sem parar, até porque o guloso Rabicó não parava de comer.
Muitos bichinhos também se deliciavam do fruto: abelhas, vespas…
Estava Narizinho bem desatenta, pensando em dar de presente uma jabuticaba ao príncipe escamado, quando pegou uma jabuticaba premiada com uma vespa. Assim que levou à boca, a vespa ferroou a língua da menina. Nesse momento, ao invés do tloc, foi um ai! ai!
Tia Nastácia ouviu os gritos lá da cozinha e foi correndo acudir a garota. Narizinho mostrou-lhe a língua e o ferrão estava lá, mas a experiente tia deu um jeito e disse para ficar tranquila que passaria. E assim foi…
Com tudo o que ocorrera, só à noite Narizinho percebeu que havia esquecido a boneca debaixo da jabuticabeira e pediu à tia Nastácia para pegá-la. Como estava serenando, a boneca ficou úmida e precisava ser refeita para não embolorar e necessitava de um vestido novo.
Emília então decidira um vestido longo, pois agora seria a Condessa de Três Estrelinhas. Assim, todas as criaturas saberiam que Emília era uma condessa, menos a vespa que picou Narizinho, pois essa já era.
A vespa morrera e fora enterrada pelas formigas. Emília, como ficou embaixo da jabuticabeira, assistiu a tudo. Por fim, apareceu um sapo, que não era o Major Agarra do Reino das Águas Claras e ele ficou se deliciando e devorando todos os insetos que via em sua frente.
Acabou o período das jabuticabas. Então elas resolveram pescar. Enquanto Emília pescava com uma vara improvisada por tia Nastácia, Narizinho conversava com a tia.
De repente, ploft… Emília estava se afogando, era puxada por um peixe. Tia Nastácia tirou a boneca da água com um peixe em seu anzol.
E a tia indignada:
– Como pode uma boneca de pano pescar?! – dirigindo-se à Sinhá.
Dona Benta retrucou:
– Foi mesmo?!
– Nem estou acreditando, mas olha a prova, o peixe que vou fritar pro nosso almoço.
Emília estava encharcada e precisou ficar ao sol para secar.
Ficaram as duas observando o corre-corre das formigas. E Emília disse a Narizinho que ela conseguia entender o que esses insetos conversavam. Começou a contar o que estava ouvindo à menina, que achou que Emília estava mentindo. Foi confirmar. Realmente, era verdade.
As formigas encontraram uma minhoca inteira e estavam trazendo ao formigueiro, mas não entrava e precisaram cortar pedaço por pedaço para serem levados ao formigueiro.
Depois dessa aventura, foram dormir. Já estavam no sono profundo, quando batem à porta: Toc. Toc.
As duas acordaram e viram que era o marquês de Rabicó com uma formiga ruiva, de saia vermelha, avental de renda e na cabeça uma salva de prata, com croquetes de minhocas. Era um presente da Rainha das Formigas para a Condessa de Três Estrelinhas.
Emília retribuiu a gentileza com uma perna de pernilongo que estava próxima a uma vela.
As duas, menina e boneca, ficaram discutindo, depois que a formiga saiu, quem experimentaria o tal croquete. Mas, nem tiveram tempo de decidir, pois o comilão do Rabicó deu fim a todos eles. Emília, que já estava prometida ao Rabicó, não se conteve e deu algumas vassouradas no ladrão.
Narizinho divertiu-se muito e pensou: “Se antes de casar é dessa maneira, como será depois”.
Depois de uma semana, Pedrinho chegou, trotando no pangaré. Foram recebê-lo: marquês de Rabicó, Emília, Narizinho.
Foram conversar um pouco, pois havia muito não se viam, enquanto se deliciavam com os quitutes da tia Nastácia.
Em seguida, só os primos foram brincar e conversar debaixo das árvores preferidas. Narizinho contou as aventuras vividas, Emília falante, o Reino das Águas Claras e também comentou sobre as novas ideias: queria casar Emília com Rabicó.
Ficaram horas conversando, mas ainda tinham muito para conversar.
Foram dormir exaustos.
Ainda Narizinho no meio do sono, ouvia sons na janela. Era Rabicó chamando para uma viagem. Foram: Narizinho com o pangaré, Emília com o cavalinho e o marquês. Foram para o reino das Abelhas ou das Vespas, não sabiam ao certo, pois o convite estava rasgado no ponto onde estava escrito Abelhas ou Vespas. E Pedrinho não estava inserido no convite, pois não fazia parte da nobreza.
Partiram, sem saber ao certo aonde iriam. Conversaram sobre o casamento de Emília e Rabicó e este queria saber qual era o dote. Se fosse dois cargueiros de milho, casaria até com uma vassoura.
Continuaram conversando, quando foram assaltados por um gato cowboy, o Tom Mix, grande herói do cinema.
Como não tinham nada, o assaltante a princípio aceitou bolo, mas como era amanhecido, cuspiu. Queria ouro. Narizinho tirou macela dourada do corpo da Emília e o bandido sumiu satisfeito.
Continuaram a viagem ao Reino das Abelhas e descobriram que o convite era realmente de lá, pois chegaram e confirmaram com as abelhas.
O local era muito organizado. Todo mel colhido das flores é depositado nos favos. A colmeia é uma grande família onde todos são iguais e felizes. Potinhos de mel, de cera…
Ganharam alguns potes de mel e foram embora muito agradecidas.
Caminharam bastante para retornar ao sítio até que pararam para se alimentar e só tinham mel e um pedaço de bolo. Já sentadas e se deliciando com o mel viram um tiziu. Acharam o passarinho bem parecido com Pedrinho.
Acharam estranho e chamaram:
– Pedrinho! Pedrinho! Venha aqui! O que aconteceu?
O tiziu desceu. Era realmente o Pedrinho. Inacreditável! Pedrinho, o tiziu, respondeu que todos tinham se transformado. Pois apareceu no sítio uma velha coroca e nos modificou: Vovó virou tartaruga, tia Nastácia galinha preta e eu, passarinho.
Continuaram a viagem e quando chegaram em casa confirmaram tudo.
De repente…
– Acordem meninas! Estão tendo um pesadelo?! Venham rápido tomar café! Esses sonhos ou pesadelos de criança!!!…
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